In girum imus nocte et consumimur igni (nós giramos na noite e somos consumidos pelo fogo) manifesta claramente minhas preocupações em relação à objetivação das formas musicais do passado, recontextualizadas à luz das necessidades da situação musical atual: a parte instrumental utiliza abundantemente as técnicas do cânone prolatório, a parte cantada refere-se ao organum, enquanto a informática funcionando durante o concerto revela o que, sem sua relação, permaneceria latente. Nesse sentido, a técnica, também amplamente empregada na composição da obra, cumpre etimologicamente sua função de arte da evidência, preservando ao mesmo tempo uma situação retórica rigorosamente não-espetacular. De fato, considero que é hora de nos afastarmos do brilho, tristemente invasivo. Provavelmente será criticada esta obra pessimista pela coexistência frágil, em sua antífona lancinante, de elementos, de gestos que parecerão a priori incompatíveis — e terão razão. O texto cantado é retirado do poema filosófico
A Verdade de D.-A.-F. de Sade: "O medo fez os deuses e a esperança os sustentou". Os fragmentos de textos falados são retirados das obras completas de Guy Debord e suficientemente compreensíveis durante o concerto para não figurarem aqui. Eles não têm a intenção de agradar.
A obra foi composta em memória de Guy Debord.
Autor: PAUSET Brice
Disciplina/Instrumento: haute-contre e conjunto
Suporte: Partitura
Estilo/Gênero: contemporâneo
Data de publicação: jan.-95
Número de páginas: 26 (A3)