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Descrição
Criação 23/09/2016 - Bonn (Alemanha), Beethovenfest, Beethovenhalle - WDR Sinfonieorchester, Marek Janowski (direção)
Comissionado por Beethovenfestes Bonn, Ernst von Siemens Musikstiftung
Nota Pioneiro do movimento espectral, Hugues Dufourt investiga o desdobramento do som, através de suas nuances, seus vincos, suas espessuras. Obcecado pela pintura - à qual dedicou o ciclo dos Invernos -, Hugues Dufourt é igualmente marcado por uma apreensão cosmológica da obra. Desde 1979, Saturne, para conjunto instrumental, instrumentos eletrônicos e percussão, interioriza as interrogações trazidas pelo músico sobre sua época. Criada na Alemanha para o Beethovenfest (Festival Beethoven), Ur-Geräusch retoma essas questões. Nos passos de um Luigi Nono que questionava, através da obra de Mahler, a ideia de um "som primordial", a obra toma seu título do poeta alemão Rainer Maria Rilke que, em um ensaio sobre o fonógrafo em 1919, imaginava um ruído primeiro inscrito em cada ser. Mas Ur-Geräusch é também uma homenagem a Beethoven e à sua Sinfonia nº 3. "A Terceira Sinfonia, escreve Hugues Dufourt, rompe os limites da sinfonia clássica. Ela encarna uma nova época do espírito do mundo. A história irrompe na obra, invadindo todo o campo do pensamento e da ação humana. Com Beethoven, a música europeia questiona seu sentido, sua técnica e sua história. A escrita sinfônica eleva-se a uma visão nova e original do mundo, a uma consciência da duração histórica e não poderá mais, no futuro, se separar de sua própria reflexão sobre si mesma. A era que nos separa de Beethoven é uma das mais sombrias da história da humanidade. Do legado tradicional até a programação do belo e a comunicação informativa que caracterizam a segunda metade do século passado, quase nada resta. Os recursos do pathos estão esgotados e soam vazios. A obra hoje oscila entre o jogo das aparências e o enigmático afloramento do sentido das próprias coisas." São essas rupturas que Hugues Dufourt coloca em jogo em Ur-Geräusch: a memória de Beethoven se desdobra em uma concepção cósmica da orquestra onde Dufourt deixa surgir "o sentido do ilimitado, o acesso à noite e o murmúrio das épocas passadas."
Charlotte Ginot-Slacik Trecho do programa do concerto da Philharmonie de Paris de 18 nov. 2016
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