3x sem custos a partir de 69 euros ou financiar até 4x
2 milhões de artigos
em stock
3 anos de garantia
Entrega gratuita
a partir da compra de 199€
30 dia de garantia
de devolução do dinheiro
Descrição
Resumo
08/10/2015 - Veneza - Bienal, Sala delle Colonne - Ensemble Recherche
Descrição
Há quinze anos, eu escrevia Figures libres para o Ensemble Recherche completo. Esta nova peça tem algo de particular – e é um desejo do ensemble – que ela não inclui o trio de cordas, embora seja tão emblemático do Recherche. Entre as duas peças, as diferenças não param por aí: a primeira é dirigida e sua forma foi em grande parte predeterminada antes da escrita, a segunda é uma obra de música de câmara e, do ponto de vista formal, foi organizada progressivamente, passo a passo. Tudo parece separar essas duas peças, pois os projetos que as originaram são diferentes. No entanto, é esse contraste entre as duas propostas que me levou a retomar princípios desenvolvidos em Figures libres, que eu não havia retomado desde então, e que eu poderia qualificar como princípios de "contaminação". Texturas sonoras ou situações musicais distintas, sobrepostas ou justapostas, acabam por se contaminar a ponto de se assemelharem e constituírem uma única e mesma textura, uma única e exclusiva estrutura. Em Figures libres, é o trio de cordas de um lado e os sopros e o piano do outro que, justapostos, fazem ouvir, desde o início da peça, estruturas musicais diferenciadas, até contraditórias. Aqui, na ausência das cordas, é o piano e a percussão de um lado e os três instrumentos de sopro do outro, que criam, desde as primeiras medidas, esses dois níveis que parecem não ter relação entre si, mas que, por contaminação rítmica e morfológica, acabarão por se fundir em espectros percutidos e ressonantes antes de retomarem sua autonomia e depois se reformarem em grupos de dois ou três para se contaminarem novamente. Longe de um jogo estéril de construção formal, o objetivo dessas transformações sucessivas é, como se pode entender, organizar a dramaturgia da peça e variar a percepção do ouvinte. Portanto, revisito aqui princípios que havia implementado há cerca de vinte anos, então confortado pela leitura de um livro marcante de Claude Simon, Leçon de choses, no qual várias narrativas, aparentemente autônomas e heterogêneas, se contaminam por meio de odores, cores, erotismo, violência... e acabam assim criando uma situação narrativa que, se não totalmente compreensível, ao menos é completamente homogênea do ponto de vista da percepção. Mais uma vez, percebo que princípios de composição que foram estabelecidos no passado podem ser deixados de lado por vários anos para ressurgir em um contexto propício ao seu florescimento. Aqui, pensar no Ensemble Recherche funcionou como a madeleine de Proust, remetendo-me ao espírito das sensações e pensamentos musicais que eu havia enterrado.
Escrever, meticulosamente, mas tomando distância, pouco tempo – a encomenda é implacável –, estimando as possibilidades oferecidas pelas rasuras do dia anterior, passo a passo, e sem olhar para trás mais do que o necessário, pois o fim da obra não é decidido pelo autor, mas pelos outros atores, do gravador aos músicos, do programador ao editor. Essa inquietação, Maurice Blanchot a expressou melhor em L’Espace littéraire...
pt 
